A Grécia e o euro, a China, Passos e a CGD marcaram Julho

A Zona Euro viveu um Verão quente com o referendo grego a abrir a porta de saída a um país da moeda única. Um clima de tensão que rivalizou com o colapso da bolsa chinesa. Por cá, aquecia a corrida às legislativas. Passos Coelho atacava a gestão da CGD, numa altura em que se esperava a venda do Novo Banco.


ACONTECIMENTOS NACIONAIS


2 de Julho:
Imagem do Banco de Portugal está "degradada", diz António Costa

Carlos Costa foi reconduzido no cargo de governador do Banco de Portugal pelo Governo PSD/CDS sem que o PS tenha sido ouvido e o processo mereceu críticas de António Costa, para quem a imagem da instituição está "degradada". Críticas que se estendem a Carlos Costa. "Era bom que o senhor governador percebesse que a isenção e a imparcialidade não resultam da letra da lei, mas sim da forma como se relaciona com o conjunto do sistema político e como assume ou não assume mandato em nome de uma facção". "O governador [do Banco de Portugal] parece julgar que basta ter a confiança da ministra das Finanças e do primeiro-ministro para ter a confiança dos portugueses. Está enganado", rematou na Redacção Aberta do Negócios.


6 de Julho:
BCP iguala CGD no "spread" da casa

O BCP tinha dado, em Fevereiro, o "pontapé de saída" no movimento de corte dos "spreads" da casa ao descer a margem de 2,5% para 2,25%. Uma decisão à qual a CGD respondeu com uma taxa de 1,75%. Apresentou o "spread" mais baixo, mas o banco liderado por Nuno Amado igualou a oferta. Desde então, outros bancos aproximaram-se destes "spreads", mas com as Euribor negativas os cortes pararam.


7 de Julho:
Jerónimo de Sousa: "PSD e CDS vão sofrer uma derrota".

No caminho para as legislativas, Jerónimo de Sousa veio à Redacção Aberta do Negócios defender o voto no PCP para derrotar o PSD e o CDS, mas sem se esquecer do ataque a Cavaco Silva. "PSD e CDS vão sofrer uma derrota. Pelo mal que fizeram aos trabalhadores e ao povo português", disse o líder comunista, criticando as palavras de Cavaco Silva de que o futuro governo não pode deixar de ter o apoio maioritária da Assembleia. "É inaceitável", classificou. "O Governo resultará das maiorias que se formem na Assembleia da República e não por vontade do Presidente." Além disso, "sempre que o PS teve maioria absoluta, foi para fazer o que fez".


10 de Julho:
Fidelidade perde na bolsa chinesa

Junho foi um mês quente nas bolsas, mas Julho ainda aqueceu mais com o mercado accionista chinês a voltar a dar sinais de grande tensão. Os receios em torno do enfraquecimento da economia ditaram quedas avultadas no índice do país com impactos na generalidade dos mercados mundiais. Em Lisboa, os efeitos foram além do PSI-20. A Fidelidade, da Fosun, viu o valor das suas participações em cotadas chinesas encolher em 103 milhões de euros em menos de um mês. Perdeu cerca de 10% do valor da carteira.


14 de Julho:
Banco de Portugal justifica actuação no BES com mentira de Salgado

O Banco de Portugal justificou parte da sua actuação nos meses antes da queda do BES com a informação falsa prestada de forma deliberada por Ricardo Salgado. Esta é apenas uma das cinco infracções de que o antigo banqueiro está acusado no primeiro processo de contra-ordenação do supervisor. A lista de arguidos neste processo inclui ainda outros 11 ex-gestores do BES, o próprio banco, a Espírito Santo Financial Group (ESFG), a ESAF e três antigos administradores da gestora de fundos de investimento.


20 de Julho:
Candidatos ao Novo Banco desafiados a subirem ofertas

Com a chegada do Verão, crescia a expectativa em torno da venda do Novo Banco. Os três candidatos na corrida, Anbang, Fosun e Apollo, eram desafiados pelos assessores financeiros da operação a melhorar as suas ofertas. Mesmo com a tensão nos mercados, nomeadamente na China, os candidatos decidiram melhorar as suas propostas.


23 de Julho:
BPI dá prioridade a Angola e adia fusão

Além da OPA do Caixabank, o BPI viu ser colocada em cima da mesa a fusão com o BCP pela segunda maior accionista, Isabel dos Santos. Mas as atenções do banco liderado por Fernando Ulrich centraram-se na resolução do problema do excesso de exposição a Angola, sendo este processo colocado de parte. Angola passou a ser a prioridade do BPI.


23 de Julho:
Presidente marca eleições para 4 de Outubro

O país ficou a conhecer a data das eleições legislativas: 4 de Outubro. Foi este o dia escolhido pelo Presidente da República numa comunicação em que Cavaco Silva aproveitou para voltar a enfatizar a necessidade de um Executivo apoiado por uma maioria. "É extremamente desejável que o próximo Governo tenha apoio maioritário na Assembleia da República", afirmou Cavaco Silva. O Presidente realçou que é essa a realidade em 26 países da União Europeia. E deve sê-lo também em Portugal, dada a situação económica.


25 de Julho:
Ricardo Salgado em prisão domiciliária

Após ouvir Ricardo Salgado durante um dia inteiro, o juiz Carlos Alexandre decidiu colocar o ex-presidente do BES em prisão domiciliária. No início da semana anterior, Ricardo Salgado já havia sido interrogado e constituído arguido no âmbito da investigação Universo Espírito Santo. Além do ex-banqueiro foram constituídos mais seis arguidos, suspeitos dos crimes de falsificação, falsificação informática, burla qualificada, abuso de confiança, fraude fiscal, corrupção no sector privado e branqueamento de capitais. Ricardo Salgado fica obrigado a permanecer na sua residência de onde só pode sair com autorização do juiz.


29 de Julho:
Oferta de Queiroz Pereira fracassa

Pedro Queiroz Pereira lançou uma oferta para ficar com todas as acções da Semapa, mas não conseguiu. Disse que a operação foi "um sucesso", apesar de apenas ter obtido metade dos títulos da "holding". Não conseguiu, assim, retirar a empresa da bolsa portuguesa, mas acabou por lhe reduzir ainda mais a liquidez.


30 de Julho:
Euribor negativa para todas as famílias

Desde Abril que a Euribor a três meses estava abaixo de zero. E em Julho completaram-se três meses consecutivos de médias mensais negativas. Uma evolução que permitiu que todas as famílias com empréstimos à habitação associados a este indexante passassem a beneficiar de um desconto no "spread". Agora estão a ser as famílias com taxa a seis meses a começar a sentir esse efeito.


30 de Julho:
Passos Coelho: A Caixa "preocupa-me"

Pedro Passos Coelho, que em Julho se preparava para a corrida a um segundo mandato como primeiro-ministro, cargo sobre o qual dizia não ter qualquer fixação, veio à Redacção Aberta do Negócios reconhecer, entre outros, a preocupação com o facto de a CGD ser o único banco que, tendo recebido ajuda pública, ainda não devolveu dinheiro ao Estado. A CGD não reagiu. Sobre o Novo Banco, disse esperar que o resultado da venda "seja o melhor possível", já sobre outros problemas na banca, "não brinco com o fogo". "Não vou falar sobre cenários de resolução bancária para mais nenhum banco português", disse.

A instabilidade governativa
é um risco grande para o país
e não o devíamos correr.

Pedro Passos Coelho, ex-primeiro-ministro de Portugal, a 30 de Julho,
na Redacção Aberta do Negócios

ACONTECIMENTOS INTERNACIONAIS

1 de Julho: Comissão Europeia dita fim das tarifas de "roaming"

Após dois anos a trabalhar na criação de um mercado único digital e de telecomunicações, foi conseguido um acordo que visa o fim das tarifas de "roaming" dentro da União Europeia e novas regras de neutralidade e equidade no acesso à internet nos países membros da UE. Na prática, isto significa que a partir de 15 de Junho de 2017, "os consumidores vão pagar o mesmo preço por chamadas, mensagens de texto e transmissão de dados móveis para onde quer que viagem na União Europeia", sublinhou a Comissão Europeia.


2 de Julho:
EUA e Cuba abrem embaixadas

O caminho para a normalização das relações entre Cuba e os Estados Unidos da América registou um dos passos mais significativos desde que Obama e Raúl Castro tinham acordado, em Dezembro de 2014, que era tempo de colocar um ponto final em mais de 50 anos de conflito. Os dois países anunciaram que iriam inaugurar embaixadas em Havana e Washington. Por resolver ficam ainda várias questões, como o embargo económico dos EUA a Cuba, a soberania sobre Guantanamo Bay, o posicionamento sobre questões relativas aos direitos humanos, bem como o pedido de compensações por propriedades norte-americanas confiscadas em Havana.


3 de Julho:
Angola vai taxar a transferência de divisas

Angola anunciou que vai começar a aplicar uma Contribuição Especial de 10% às transferências de divisas para o exterior em contratos de prestação de serviços de assistência técnica estrangeira ou de gestão, travando a fuga de capitais. Esta medida, que consta de um decreto legislativo assinado a 29 de Junho pelo presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, é uma resposta à descida do preço do petróleo no mercado internacional, que provocou um "impacto negativo directo" das reservas de divisas do país e na arrecadação de receitas tributárias.

8 de Julho: Derrocada na bolsa chinesa

O regulador chinês continua a avançar com medidas para tentar travar a queda acentuada das acções chinesas, mas para já sem sucesso. O índice da bolsa de Shanghai afundou perto de 6% e desde o máximo histórico registado a 12 de Junho já desvaloriza mais de 32% - um desempenho que aumentou para mais de 1,8 biliões de euros a perda de valor entre todas as acções que compõem o índice chinês. Uma das últimas medidas passa por proibir os investidores com posições qualificadas em cotadas chinesas de vender as acções que têm em carteira por um período de seis meses. Antes já tinham sido canceladas todas as ofertas públicas iniciais (IPO) e avançado com uma série de outras medidas que para já não estão a surtir efeito.



14 de Julho:
Maratona negocial manteve os gregos no euro. Tsipras cedeu à austeridade

Com Atenas a necessitar de um terceiro resgate, mas a Europa a exigir mais medidas de austeridade, Alexis Tsipras convocou um referendo. O povo grego disse um claro "não". A saída do euro deixou de ser tema tabu, passando a estar em cima da mesa. Mas à margem da cimeira de líderes da Zona Euro, Angela Merkel e François Hollande fizeram pressão para evitar um cenário catastrófico. Foi uma maratona negocial de 17 horas que manteve os gregos no euro, mas obrigou Tsipras a negociar em Atenas.

15 de Julho: Irão e potências mundiais chegam a acordo sobre o nuclear

O Irão aceitou pôr fim ao seu programa de armamento nuclear em troca do levantamento das sanções internacionais. O acordo foi alcançado ao fim de 18 dias de negociações entre Teerão e seis potências internacionais: EUA, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha. Foi dado o primeiro passo para que o país inicie as exportações de petróleo, mas também que recupere o acesso aos mercados de financiamento internacionais. Ao mesmo tempo, abriu-se a porta de mais um mercado para as empresas estrangeiras, entre elas as nacionais. O maior entrave às exportações para o Irão – as garantias bancárias – foi eliminado. Energia, agro-alimentar, tecnologias da informação e construção civil são nichos de mercado a explorar por muitas empresas portugueses que rapidamente começaram a pedir informações sobre este novo mercado de 80 milhões de habitantes, na sua maioria jovens.


20 de Julho:
François Hollande defende a criação de um governo do euro

O presidente da República francês defende a criação de um governo da Zona Euro. François Hollande afirma que a Europa "não pode reduzir-se a regras, mecanismos ou disciplinas", e considera que a Zona Euro precisa de um orçamento específico e de um parlamento que garanta o "controlo democrático". Para o presidente francês, a Zona Euro afirmou a sua coesão ao conseguir um acordo com a Grécia.


23 de Julho:
Apple perde num dia metade do valor do PSI-20

Como é hábito, os resultados líquidos aceleraram. E as vendas dispararam, mas não foi o suficiente para satisfazer os accionistas da Apple. Queriam mais. E demonstrar a insatisfação com as projecções de vendas do iPhone, aquém do antecipado, com a venda das acções da empresa liderada por Tim Cook. Os títulos afundaram, retirando ao valor de mercado da tecnológica o equivalente a mais de metade da capitalização bolsista das cotadas presentes no PSI-20: 34 mil milhões de dólares.