Em Janeiro a PT ficou francesa e Tsipras ganhou a Grécia

O ano de 2015 acordou com o ataque terrorista ao Charlie Hebdo. E o primeiro mês terminou com as convulsões na política europeia provocadas pela vitória do Syriza na Grécia. Em Portugal, a PT passou para a Altice.


Acontecimentos nacionais

12 de Janeiro: Gonçalo Reis sucede a Alberto da Ponte na RTP 
Gonçalo Reis, antigo deputado à Assembleia da República pelo Partido Social Democrata e ligado a Santana Lopes na sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa, foi o nome proposto para suceder a Alberto da Ponte à frente da administração da estação pública. Na sua equipa entrou também o nome de Nuno Artur Silva, que liderava na altura as Produções Fictícias, empresa de conteúdos de humor fundada por si. Gonçalo Reis, 45 anos, tinha estado já na administração da RTP durante a presidência de Almerindo Marques entre 2002 e 2007. Foi com ele, aliás, que posteriormente transitou para a Estradas de Portugal, em 2007. Era gestor no fundo de private equity Explorer Investments.

13 de Janeiro: Comissão de inquério ao BES acelera trabalhos
Depois das audições à porta fechada de José Castella e Machado da Cruz, tesoureiro e contabilista do GES respectivamente, Isabel Almeida inaugurou as sessões da comissão de inquérito da segunda semana de Janeiro, dando início à procissão de nomes que incluiu em Janeiro responsáveis como Hélder Bataglia, José HonórioSikander Sattar ou Luís Horta e Costa. Isabel de Almeida deu um dos testemunhos mais relevantes na comissão parlamentar, pistas para tentar compreender as razões da maior falência da história da democracia portuguesa, que atingiu, ainda em Janeiro, o próprio Presidente da República

20 de Janeiro: EDP vende edifício no Marquês de Pombal

Em seis meses, foram vendidos sete edifícios na zona do Marquês de Pombal, num conjunto de operações que representa um investimento de 86 milhões de euros. A sede da EDP havia sido vendida em Junho por 56 milhões de euros. Negócios de elevada dimensão no sector imobiliário que deram o mote a uma tendência de grandes transacções de imóveis na capital portuguesa que viria a marcar todo o ano de 2015. 


22 de Janeiro: PT Portugal vendida à Altice
Foi o negócio que marcou Janeiro e o ano de 2015. Os franceses da Altice fecharam a compra da PT Portugal, dona da Meo, a 22 de Janeiro, numa assembleia-geral (AG) que ficará para a história da empresa e do país. Poucos accionistas decidiram o futuro da PT Portugal. A votação dos accionistas presentes foi expressiva. 97,81% dos presentes deram luz verde à venda da PT Portugal pela Oi à Altice. O processo não foi simples, com a primeira reunião magna a ser suspensa e adiada para o dia 22 de Janeiro. Em paralelo, a PT SGPS seguia o seu rumo e na semana seguinte registava mesmo a sua pior semana em bolsa de sempre.   

27 de Janeiro: Ulrich admite entrar na corrida ao Novo Banco

Fernando Ulrich admitiu, no final do mês de Janeiro, realizar um aumento de capital para comprar o Novo Banco e garantiu que prejuízos não põem o BPI de fora da corrida. As palavras foram ditas durante a conferência de imprensa de apresentação dos resultados de 2014, com o banco a apresentar um prejuízo de 161 milhões de euros, um resultado que foi pior do que o estimado pelos analistas. "A capacidade do BPI não depende do resultado de 2014 ou 2013, mas sim da mobilização da confiança dos investidores. O BPI contará com os seus accionistas, que são particularmente fortes e com o apoio do mercado de capitais porque é uma entidade credível" disse Ulrich. Estava assim dado o pontapé de saída numa corrida pelo Novo Banco que iria marcar todo o ano de 2015 e cujo desfecho acabou por escorregar para 2016. 

28 de Janeiro: Crise angolana ameaça nove mil empresas portuguesas

Foi o primeiro abalo sério na relação entre empresas portuguesas e Angola. A queda do preço do petróleo fez abanar os alicerces da economia angolana e contaminou as milhares de empresas portuguesas que têm relações comerciais com o país. O governo angolano começou a limitar as importações, parou alguns dos projectos de obras públicas e mostrou sinais querer diversificar a economia. Em paralelo, começaram a escassear dólares no mercado e o Banco Nacional de Angola aplicou restrições na cedência de divisas à banca comercial. O efeito dominó não se esgota aqui. Os bancos portugueses com actividade em Angola ressentiram-se do aperto da economia e os milhares de portugueses expatriados em Angola começaram a sentir dificuldades - que se agudizaram ao longo do ano - em transferirem dinheiro para Portugal.


Acontecimentos internacionais


7 de Janeiro: Ataque terrorista ao Charlie Hebdo

Doze pessoas - entre eles nove jornalistas e dois polícias - foram mortas e 11 feridas a 7 de Janeiro, durante um tiroteio nos escritórios do jornal satírico francês Charlie Hebdo. O número de mortos foi confirmado pelo porta-voz da polícia de Paris, Xavier Castaing. O presidente francês, François Hollande, anunciou, no próprio dia, a activação do plano de alerta máximo no país, depois de um ataque armado que qualificou de "terrorista". Os movimentos de solidariedade espalharam-se por todo o mundo, dando força a uma das expressões do ano: "Eu sou Charlie". Cinco dias após os ataques terroristas, milhares de pessoas uniram-se nas ruas de Paris numa marcha silenciosa contra o terrorismo. Estiveram presentes cerca de 30 chefes de Estado e do Governo.


15 de Janeiro: Suíça acaba com ligação ao euro
A Suíça surpreendeu o mundo: Thomas Jordan, governador do Banco Nacional da Suíça, provocou um verdadeiro "tsunami" nos mercados financeiros ao anunciar o fim da ligação que reinava entre o franco suíço e o euro. A medida ditou uma escalada da moeda helvética que chegou a valorizar quase 20%. A decisão surgiu como antecipação a um possível anúncio de compra de dívida pública pelo BCE, dizem os analistas, uma vez que, a concretizar-se, colocaria demasiada pressão sobre o banco central suíço. A decisão provocou fortes ondas de choque nos mercados.


19 de Janeiro: Amazon aposta na produção de filmes

A retalhista "online" Amazon anunciou a 19 de Janeiro uma estratégia assente na produção de filmes originais. As obras cinematográficas terão estreia no cinema, passando a integrar o serviço de "streaming" da Amazon poucas semanas depois. Para 2015, está prevista uma dezena de filmes. Na semana anterior, a Amazon já tinha informado que iria contratar o cineasta Woody Allen para produzir uma série televisiva. A empresa havia começado o ano em alta, com a sua série "Transparent" a ganhar um Globo de Ouro. A Amazon entrou assim numa batalha digital por conteúdos que está a mudar o modelo de negócio do entretenimento audiovisual em todo o mundo e que tem a Netflix ou a Apple como novos protagonistas. 


22 de Janeiro: BCE arma a bazuca
O Banco Central Europeu, liderado por Mario Draghi anunciou a compra de 60 mil milhões de euros de títulos por mês na Zona Euro a partir de Março (e pelo menos até Setembro de 2016). Este montante inclui compras de dívida pública, de dívida emitida por instituições europeias (12% das compras totais) e também dos programas de dívida titularizada privada (estes já iniciados em Outubro). A medida - que os analistas apelidaram de bazuca dado o potencial impacto nas economias da Zona Euro - gerou uma intensa reacção dos mercados europeus

25 de Janeiro: Syriza vence eleições gregas
O partido de esquerda radical Syriza venceu as eleições com uma margem que superou todas as expectativas. No seu discurso, Tsipras adoptou um tom conciliador, mas vincou que a troika é passado e prometeu acabar com o ciclo vicioso da dívida. O partido de Alexis Tsipras conseguiu 36,34% dos votos, ficando apenas a dois deputados de conseguir maioria absoluta, conseguida no dia seguinte graças ao apoio dos Gregos Independentes. Aos 149 deputados eleitos pelo Syriza, juntaram-se mais 13 deputados deste partido de direita nacionalista. Na semana que se seguiu começou a crescer a popularidade global de Yanis Varoufakis, que acabaria por assumir a pasta das Finanças no novo governo e a liderança posterior das negociações com os parceiros europeus.

O povo grego fez História! A Grécia vira a página, deixa atrás de si a austeridade, o medo, a prepotência e cinco anos de humilhação

Alexis Tsipras