Oito mitos sobre
a economia grega.

Hidras, labirintos com minotauros, voos demasiados próximos do Sol e pedras que nunca conseguimos empurrar até ao topo da montanha. A mitologia é uma marca da Grécia Antiga. Da contemporânea também. Hoje, existe outro tipo de mitos que nos propomos a esclarecer.

1. Receita do Estado
"Os impostos são baixos"

Depende da pergunta que se faça. É verdade que o Estado grego arrecada pouca receita de impostos quando comparados com outros Estados-membros. Mas isso não significa que os impostos sejam baixos. A Grécia aplica uma das taxas marginais mais altas sobre empresas e famílias (46% vs. 39% na UE). E se, por um lado, o contribuinte grego médio não está entre os mais penalizados pelos impostos, somando-lhe as contribuições sociais vai para a metade superior da lista.



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2. Educação
"São pouco qualificados"

Não são os campeões, mas é difícil argumentar que os gregos são pouco qualificados. 63,2% da população entre os 15 e os 24 anos está integrada no sistema de ensino, acima da média da União Europeia. Um resultado melhor que em França, Reino Unido ou Portugal. Entre os que estão na universidade, quase 14% escolhe áreas relacionadas com matemática e informática e 18,4% áreas industriais ou de engenharia, dois valores que estão entre os mais altos da UE. Os gregos têm também a maior percentagem de sobre-qualificação da UE (26% dos empregados).


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3. Tempo de trabalho
"São uns preguiçosos"

No início do século XX, alguns ocidentais acusavam os japoneses e os coreanos de trabalharem pouco e, 100 anos antes, as mesmas acusações eram atiradas pelos ingleses aos alemães. Actualmente, os dados da OCDE mostram que a Grécia é o segundo país que mais horas trabalha, só atrás do México. As suas 2.037 horas/ano por trabalhador significam que, por cada três horas que trabalham, os alemães trabalham só 1,5. Em férias e feriados, a Grécia tinha em 2013 menos dias do que a média do Euro, mas mais que a UE. Abaixo dos valores de Portugal ou Irlanda, mas acima de Alemanha e França. Assim, o problema não parece estar no esforço, mas sim no resultado, afectado pela baixa produtividade dos gregos. Trabalham muito, mas criam pouca riqueza.





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4. Endividamento
"Sector privado muito alavancado"

O sector privado grego é muito endividado. Em 2013 devia 136% do seu produto interno bruto (PIB). O que significa que seria necessário usar mais um ano da produção do País para conseguir pagar toda essa dívida. Porém, está longe de ser a situação mais dramática da Europa. Quem lidera a lista é o Luxemburgo, com uma dívida privada equivalente a 356% do PIB, seguido pela Irlanda (345%) e Holanda (270%). A dívida privada portuguesa está nos 202% do PIB. A preocupação com o endividamento está no número de pessoas que já não é capaz de cumprir as suas responsabilidades: o crédito malparado na Grécia já ultrapassa os 30%.


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5. Pensões
"Reformam-se demasiado cedo"

Mais uma acusação que não parece coincidente com a realidade. Se usarmos como critério as reformas antecipadas, a Grécia está entre os países que menos recorrem a esse mecanismo. Apenas 11,9% dos pensionistas se reformou antecipadamente. Em Itália, que lidera a lista, são 73,5%. Em Portugal, 57,2%. Segundo o Eurostat, em 2006 os gregos estavam entre os que começavam a receber mais tarde a pensão de velhice, ao mesmo que estavam ainda a trabalhar, com uma média de 61,1 anos. Só Islândia, Alemanha, Chipre e Dinamarca tinham valores mais altos. Em 2009, os gregos abandonavam em média o mercado de trabalho aos 61,5 anos, enquanto a média da Zona Euro era de 61,2. Nesse ano, o valor mais baixo pertenceu à Eslováquia (58,8) e o mais alto à Islândia (64,8).

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6. Informalidade
"Fogem ao fisco"

Não há dados oficiais, mas estimativas de estudos académicos concluem que a dimensão da "economia sombra" da Grécia está significativamente acima da média. Andreas Buehn e Friedrich Schneider calculam que tenha sido, em média, 8,1% do PIB entre 1999 e 2010. A média da OCDE é de 6%. Na Europa, apenas Bulgária, Chipre e Roménia têm valores mais altos. A fuga ao fisco, em concreto, não se destaca face à média (1,8%), mas se esses valores foram ajustados ao número de trabalhadores por conta própria, é um dos maiores do mundo. Esse é um dos principais problemas gregos: tem muitos trabalhadores independente, o que facilita a fuga ao fisco, assim como um sector agrícola grande e fragmentado.


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7. Estado
"Não conseguem pagar a dívida"

Ao contrário dos mitos anteriores, este é sobretudo alimentado pelo governo grego. Embora tenha a maior dívida pública da Zona Euro, a Grécia não se pode queixar em matéria de encargos com a dívida pois é um dos países do euro que menos dinheiro gasta a esse nível. Segundo Zsolt Darvas, do 'think tank' Bruegel, os encargos anuais com o serviço da dívida equivalem a 2,6% do PIB (4,3% se não contarmos com os juros que o BCE transfere para o banco central grego). É bem mais noutros países. Em Portugal, por exemplo, pesa cerca de 5%.



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8. Contas públicas
"Não ajustaram o suficiente"

Em 2009, a Grécia tinha um défice orçamental de 15,2% do PIB. Um nível altíssimo que apenas conseguiu descer para 12,2% até 2012. Contudo, no ano seguinte cairia para 2,5% e este ano deverá mesmo registar um excedente de 1,1%. Só a Alemanha conseguirá esse feito. Se olharmos para o saldo primário, que exclui o pagamento de juro, o défice de 10,2% do PIB (2009) transformou-se num excedente de 5,1% previsto para este ano. Um ajustamento de 15,3 pontos. Por comparação, o pior ano de Portugal foi 2010, com um saldo negativo de 8,2% do PIB e deverá terminar este ano com um excedente primário de 1,6% (9,8 pontos).


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