O caminho que o BCE gostaria que o dinheiro do seu programa seguisse.
Um cenário menos desejado, mas ainda assim positivo para a economia e inflação.
O cenário que o BCE menos gostaria de ver concretizado.
O ciclo da expansão quantitativa
Criar dinheiro do nada
O primeiro passo para disparar a bazuca do 'quantitative easing' (QE) é imprimir dinheiro. Não literalmente. Hoje, este processo é electrónico. Os bancos centrais criam novo dinheiro, aumentando o balanço através da compra de activos como dívida pública (também adquirem dívida privada). No caso do QE europeu, os 19 bancos centrais do euro ficarão responsáveis pela compra desses títulos (e também com 91% do risco).
Bancos vendem dívida
Os bancos comerciais aceitam vender os seus títulos de dívida e recebem em troca dinheiro acabado de criar. Com essa transacção libertam recursos que podem utilizar de várias formas. Existem três caminhos principais: comprar outros activos, como acções (a vermelho); dar mais crédito às famílias (a laranja); ou dar mais crédito a empresas (a verde).
Crédito às empresas
O caminho potencialmente mais virtuoso passaria por usar esse dinheiro para ceder mais crédito às empresas, idealmente a condições mais favoráveis. As empresas utilizariam esse financiamento para acelerar a recuperação do investimento.
Crédito às famílias
Não é que seja exactamente um mau caminho, mas não é exactamente aquele que o BCE preferiria. Os bancos podem optar por conceder crédito às famílias (principalmente à habitação), em vez de estenderem mais empréstimos a empresas interessadas em investir. Contudo, este percurso também ajuda a economia a crescer e a inflação a subir.
Economia começa a mexer
Mais investimento e mais consumo dão uma ajuda decisiva ao crescimento da economia (compõem 82% do PIB português). As empresas aumentam as vendas e ganham margem para aumentar a produção ou para investir (ainda mais).
Emprego e salários crescem
O ciclo virtuoso descrito em baixo consiste num impulso à procura por bens e serviços. A sua consequência, espera-se, é que as empresas possam contratar mais trabalhadores para responder à necessidade de maior produção ou aumentar as remunerações dos que já empregam.
Preços avançam
O movimento descrito em baixo fará aumentar os preços desses mesmos bens e serviços. Uma economia mais aquecida é também uma economia com preços a crescer mais rápido. É esse o impacto que interessa ao BCE, permitindo escapar de um cenário de deflação e aproximar-se da meta de 2% para a inflação.
Um mundo ideal
O cenário aqui descrito é o mais desejado pelo BCE. Contudo, existem vários riscos pelo caminho. Mesmo que ele funcione como se espera, demorará algumas semanas e talvez meses para se conseguir avaliar o seu impacto. Mais: pode nem sequer ter o efeito pretendido, acabando por ajudar apenas os investidores, mas com impacto débil no crédito.
O impacto de uma moeda mais frágil
Se há efeito que parece praticamente automático é a desvalorização do euro. Esse movimento ajudará de duas formas: as empresas exportadoras europeias deverão vender mais; e as compras ao exterior ficarão mais caras, "importando" inflação.
Investir para crescer
Se houver mais crédito disponível para as empresas, não só a quantidade aumenta, como os juros cobrados deverão começar a baixar. O investimento é um dos principais trampolins da economia. Ao realizá-lo, as empresas aumentam o seu potencial de produção futura.
Investidores esfregam as mãos
O dinheiro que os bancos recebem em troca dos títulos de dívida permite-lhes comprar novos activos, que podem ser acções. Isto pode resultar numa escalada das bolsas, como aconteceu com o QE dos EUA. Só que na Europa o financiamento da maior parte das empresas não passa pelo mercado de capitais. Num cenário mais pessimista, pode até criar uma bolha nas bolsas. E os bancos podem decidir nem sequer investir na Zona Euro.
Periféricos com famílias endividadas
Se este caminho ajuda a economia, por que é menos desejável? Porque economias muito dependentes do consumo privado para crescer, como é o caso de Portugal (66% do PIB), devem evitar crescer por via do crédito ao consumo. As nossas empresas também estão endividadas, mas o investimento só representa 16% do PIB.